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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

EXPERIMENTE O SABOR DO SABER

Uma das coisas que mais afetam a relação ensino/aprendizagem é o procedimento didático/pedagógico estéril, que gera desprazer para ambas as partes. É impossível conceber a educação sem suas cores, e sabores, pois o texto só tem sentido embebido de um contexto.A professora Adélia Prado nos convida a reflexão com sua frase: "Não quero faca nem queijo; quero é fome". De nada valem laboratórios mega equipados, bibliotecas repletas de palavras mortas, se não existe um professor que aguce a fome de saber em seus alunos, e transforme as palavras em caminhos para se encontrar as facas e os queijos.É necessário muito desejo para fazer arder a chama do conhecimento, como no amor é impossível se doar para algo que não nos cativa, não nos seduz. Muitas vezes o estudante é forçado a memorizar um volume imenso de informações sem qualquer conexão com sua vida, num verdadeiro engolir sem saborear.Podemos entender a aula como um beijo na boca, ninguém dá beijo na boca de ninguém, porque ambos se beijam, e ao beijar-se se invadem, se conhecem, e criam de maneira conjunta novas (e eternas) situações de auto e hetero conhecimento.

Na aula, tal qual o beijo não existe a posse, existe a troca, ambos buscam construir novas possibilidades e novos caminhos por estarem excitados pela vontade de descobrir. Uma boa aula só existe se o professor é um bom sedutor, e se este possui um amplo cardápio de estratégias de sedução.Será que o podemos aprender a ser sedutores? Eu digo que sim, pois a sedução nasce do desejo e do amor, se o professor compreende e ama seu fazer, a sedução surge do desejo de conquistar os educandos para a construção de momentos prazerosos na relação ensino/aprendizagem.É bom lembrar que a palavra “saber” veio do latim "sappere", que dentre seus significados também podia ser entendida como "ter sabor de", também é valido ressaltar que etimologicamente, a palavra sabor “sapor” está ligada a sábio “sapiens”. Como podemos notar a relação entre sabores e saberes é extremamente intima.Nós, professores não podemos negar aos estudantes os sabores de nossos saberes, e a degustação do conhecimento historicamente construído (ou em construção) se dá muitas vezes no contato com a realidade. Em uma aula de campo temos uma espécie de “restaurante de informações a rodízio”, onde educadores e educandos se deliciam na partilha destes “alimentos culturais”.

Na verdade, nossas salas-de-aula às vezes tentam homogeneizar os sabores de nossos conteúdos, os livros-didáticos surgem como “bandeijões” de informação, e desta maneira o prazer do paladar é substituído por uma anorexia didático-pedagógica. Resgatar o prazer de aprender no educando, passa necessariamente por compreender o ensinar, neste sentido precisamos nos tornar cozinheiros hábeis detentores de um variado cardápio, e para isso necessitamos de estudar, estudar as diferentes maneiras de preparar e compartilhar o alimento que servimos.Também necessitamos nos colocar nos textos e contextos de nossos conteúdos, é muito freqüente o professor falar de excedente populacional, porém sempre o excedente é o outro, nunca nos colocamos nesta condição. Viver o conteúdo, viver no conteúdo é condição básica para transformar a aula numa ceia.Caro amigo professor, faça de sua disciplina um restaurante, e de tua aula o melhor alimento, pois a fome de saber está no ar, muitas vezes os estudantes buscam soluções rápidas em fast-foods, mas na verdade esperam sempre a velha e boa comida caseira, repleta de temperos e amores.

Fabio Flores é palestrante e professor universitário.interatividade@hotmail.com

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